“Fazíamos as necessidades no mato, não tínhamos como ter banheiro.” O relato é do hoje construtor e líder comunitário Moisés Viana da Silva Oliveira, 44 anos. Ele mora no bairro Acréscimo das Laranjeiras, Loteamento do Alemão, em Serra, cidade da Região Metropolitana da Grande Vitória (ES). Nascido em Linhares (ES), ainda criança se mudou com a mãe e mais seis irmãos para Serra, onde morou em outros dois bairros também sem infraestrutura.
“O primeiro imóvel tinha fossa cavada no barro”, diz morador
A casa foi construída com materiais doados. “Sofremos bastante por causa da falta do saneamento básico. No começo, improvisamos uma fossa, mas, com o tempo, não dava mais para fazer, então tinha que jogar todo o esgoto em um ‘valão’, e depois acabava caindo em um córrego que faz parte do Laranjeiras” – conta Moisés.
Desafio: a falta de regularização fundiária
O local onde o líder comunitário e sua família moram faz parte de uma área que só foi regularizada em 2024. A partir daí, a concessionária responsável pelos serviços de esgoto na cidade iniciou a implantação da rede sanitária, concluída em fevereiro deste ano. Com a chegada do saneamento, os moradores viveram uma grande transformação. O bairro do Moisés é um dos 118 atendidos no município. Segundo a Ambiental Serra, o acesso aos serviços de coleta e tratamento de esgoto teve um grande salto: de 58% em 2015 para 92% em 2023. Isso se deve à expansão da rede que, em 2015, somava 653 km e, em 2023, já estava com 1.261 km. A ampliação da cobertura em oito anos colocou o município dentro do grupo de 60 cidades do Brasil com 90% ou mais de atendimento.

O saneamento chega e melhora a renda da comunidade
Como liderança comunitária, Moisés participou e trabalhou ativamente em todo o processo de implantação da rede de esgoto no bairro onde mora, e é nesse cenário que hoje diz, orgulhoso, como ele, a esposa e os três filhos prosperam. De ajudante de pedreiro, agora é construtor com cursos de elétrica e bombeiro hidráulico; antes sem estudar, agora proporciona estudo aos filhos (de 15, 10 e 9 anos de idade); antes vivia em um barraco sem banheiro, agora mora em uma casa de alvenaria, com banheiro e conectada à rede de esgoto; antes com luta por melhores condições, agora com sentimento de valorização. “O esgoto é um serviço essencial para que possamos nos sentir assim. Com dignidade”, conclui.
O saneamento é aliado do trabalhador
Num país em que milhões ainda vivem sem acesso à infraestrutura básica, o saneamento desponta como um dos mais poderosos aliados da renda do trabalhador brasileiro. Mais do que um serviço essencial à saúde, o saneamento básico é um agente de desenvolvimento econômico e social.
Segundo dados do IBGE 2023, presentes no Painel Saneamento Brasil, a renda média de pessoas com acesso ao saneamento é de R$ 3.220,94, enquanto aquelas sem recebem, em média, R$ 2.084,42. Isso representa uma diferença de 54,5%. Em outras palavras, o simples fato de ter água potável e esgoto tratado pode significar mais de mil reais a mais no bolso do cidadão todos os meses.
Um estudo do Instituto Trata Brasil projeta que a universalização do saneamento no país pode gerar um aumento de R$ 438 bilhões na renda do trabalho entre 2021 e 2040, o equivalente a quase R$ 22 bilhões por ano. Isso significa mais empregos, mais arrecadação e mais dignidade.
Texto: Maristela Yule
Fotos: arquivo pessoal e IA do Shutterstock
Fontes: Trata Brasil | Estudo ITB | Universalização Trabalho e Renda