Secas, tempestades, altas temperaturas. Os efeitos das mudanças climáticas cada vez mais afetam as nossas vidas. Até que ponto essas alterações são naturais e quando elas começaram a ocorrer de forma mais intensa, tendo o ser humano como protagonista? Alguns registros apontam que desde 1800, sobretudo por causa da queima de combustíveis fósseis, gerando emissões excessivas de gases de efeito estufa. O acúmulo desses gases intensifica o fenômeno, causando o aquecimento global e trazendo como consequência as mudanças do clima.
O aquecimento global representa temperaturas cada vez mais elevadas, o que provoca inúmeras consequências; uma delas é o impacto no sistema de abastecimento de água. O estudo do Instituto Trata Brasil intitulado Demanda futura por água em 2050: desafios da eficiência e das mudanças climáticas aponta que a temperatura máxima deve aumentar 1º C em comparação aos níveis observados em 2023, e a mínima deve ter acréscimo de 0,47º C. Sem contar a redução no número de dias chuvosos e de chuvas mais fortes. Essa projeção, se confirmada, tende a elevar o consumo de água e, segundo o estudo, as mudanças climáticas projetadas até 2050 podem acentuar o desequilíbrio entre oferta e demanda de água no país.
A ilha que recicla esperança: práticas sustentáveis que transformam
Mas se as ações humanas contribuíram, ou contribuem, para o cenário do início do texto, elas também podem construir um novo momento. Nesse aspecto, de um lado, lideranças mundiais se reúnem para debater medidas que possam combater os efeitos dessas mudanças — a exemplo da COP30 (Conferência das Partes), que acontece no Brasil, em Belém (PA). Por outro lado, a população também se engaja e adota boas práticas.
O próprio município, sede da COP30, tem exemplos disso. A família de Dona Prazeres Quaresma dos Santos, 57 anos, vive na Ilha do Combu desde 1914; em 1982, os pais e tios dela montaram um restaurante na ilha, onde só se chega navegando pelas águas do Rio Guamá. No lugar de mata exuberante e água em abundância, há também a preocupação sobre como preservar e dar destino adequado a resíduos que podem prejudicar a natureza.
Boas práticas: mais sustentabilidade
Seleção de resíduos, compostagem dos orgânicos de origem vegetal, uso de canudo de papel, água servida em copos — sem venda de água em garrafas plásticas, a água servida é mineral e comprada em galões —, biodigestores. Essas são algumas boas práticas adotadas no restaurante da família de Dona Prazeres. “Nós fizemos a implantação [dos biodigestores] em 2019. Eu digo que eles vieram coroar todas as outras práticas de sustentabilidade que nós já praticávamos. Encontramos um sistema que se adaptou à nossa necessidade e, então, implantamos.”
Segundo ela, até então, as tecnologias disponíveis não se adequavam nem à realidade financeira da família, nem à de um ecossistema de várzea dentro da floresta. “Os biodigestores nos deram tranquilidade quanto à questão dos resíduos orgânicos de origem animal, já que fazem todo o tratamento, nos dão o gás metano que queimamos na nossa cozinha e também o biofertilizante que usamos no sítio, nas plantinhas dos nossos canteiros”, detalha Dona Prazeres.
Quatro biodigestores implantados
No total, são quatro biodigestores; a produção de cada equivale a um botijão de gás doméstico por mês. “O gás que os biodigestores produzem não é suficiente para atender a minha necessidade, mas o mais importante é que esse gás metano deixa de ir para a atmosfera.”
No entendimento de Dona Prazeres, todas as ações que contribuam para a preservação são necessárias e de extrema importância, por isso é preciso conscientizar as pessoas. “Infelizmente, ainda hoje, nós temos pessoas na Ilha do Combu que jogam lixo no rio, apesar de ter a coleta que a prefeitura mantém. Elas não têm essa consciência e pensam que o rio pode levar tudo. Ele realmente leva, mas em algum momento ele devolve.”
Um esforço conjunto, em qualquer proporção — dentro das possibilidades de cada pessoa —, pode provocar grandes transformações. E, ao que tudo indica, todas as ações, em todo o mundo, estão surtindo efeito. Uma reportagem publicada em setembro pela Agência Brasil, com base no Boletim de Ozônio da Organização Meteorológica Mundial (OMM), destaca que a camada de ozônio da Terra teve sinais de recuperação e que a tendência é de que isso prossiga, chegando à totalidade, caso as políticas sejam mantidas.
Texto: Chris Reis
Foto: Arquivo pessoal Dona Prazeres
Fontes: Nações Unidas Brasil | Camada de ozônio Camada de ozônio | Trata Brasil |
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