Abrir a torneira de casa e de lá sair água boa. Parece algo simples, mas que ainda é uma realidade distante para cerca de 32 milhões de brasileiros, segundo o Instituto Trata Brasil. Dia a dia o movimento é para romper barreiras, avançar nas obras, ampliar o acesso e com isso promover saúde e inclusão às famílias brasileiras, como ocorreu com a comunidade do condomínio Venda Velha I, localizado em bairro de mesmo nome, em São João de Meriti (RJ), na Baixada Fluminense.
“Transformou tudo, passei a ter uma matrícula. Ter uma matrícula é simplesmente existir e foi isso que aconteceu com a gente aqui, passamos a existir para todo mundo”, diz Rúbia Silva Cardoso, 62 anos.

Comprovar onde mora é, para ela, um grande benefício desse processo. “Precisar carregar os documentos da casa sempre que ia em algum lugar era muito ruim”, reclama Rúbia. Ela utilizava o contrato de financiamento do imóvel – obtido por meio de programa social – para comprovar o endereço.
Expansão da rede leva água e felicidade
Em Sampaio, zona norte do Rio, a cuidadora Vanessa dos Santos Cordeiro, 39 anos, também acredita que ter uma conta de água é comprovar a existência. “Ter uma conta no meu nome me dá segurança. Antes, para provar que morava aqui, eu precisava ir ao cartório, pagar, correr atrás de documentos. Agora não, agora é oficial. Isso mostra que a gente existe e que tem direito como qualquer outra pessoa.”

Vanessa é uma das moradoras da Rua Valentim da Fonseca, no bairro de Sampaio, que recentemente recebeu o serviço de água. A obra feita pela Águas do Rio incluiu a extensão da rede de abastecimento de água e a instalação de hidrômetros individuais, permitindo que cada morador passe a ter o controle do seu próprio consumo.
“Eu estou feliz da vida, não vejo a hora de ter a minha conta de água. Vou ter alguma coisa no meu nome, porque é muito complicado, meus filhos estudam e fica muito difícil comprovar a residência quando precisam”, diz ela, que mora no local há cinco anos e tem dois filhos: uma de 20 anos, que cursa medicina na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e um de 12 anos, estudantes da FAETEC de Quintino.
Como a escassez era grande, famílias armazenavam água
Acostumada com a escassez de água, Vanessa mantinha galões e latões para armazenamento. “Outro dia me dei conta que estava guardando os latões, porque a escassez era tão grande. Agora não sei o que vou fazer com eles.”
Antes do serviço ser disponibilizado, os moradores de Sampaio dividiam os custos do caminhão-pipa. O problema, além do valor e da incerteza sobre a qualidade e procedência da água, era a demora. “Às vezes ficávamos três dias esperando o caminhão e todo mundo ficava sem água, no sufoco. Muito triste”, diz Vanessa.
Para garantir água para o banho, alimentação e manutenção da casa, a cuidadora lavava roupa no trabalho. “Pegava uma mala de roupa e levava para o trabalho, chegava mais cedo para poder lavar a roupa, porque a gente não tinha [água]. Quando lavava em casa, reciclava a água para lavar mais roupa”, detalha.

Na Baixada, moradora buscava água com a cadeira de rodas
Já Rúbia usava a cadeira de rodas do marido para transportar a água em galões e levar para casa para lavar roupa, cozinhar e tomar banho. “Quando não tínhamos água aqui, o jeito era buscar em uma bica, que era uma ligação clandestina. Todo mundo pegava água ali. Eu enchia uns 16 galões de água por dia, fazia várias viagens. Era muito difícil”, diz a moradora de São João de Meriti (RJ).
Moradora do Condomínio Venda Velha I há 11 anos, só no ano passado viu o cenário se transformar. A mudança se deu com a chegada da água encanada, que promove o acesso à água aos 404 apartamentos, integrantes de programa social.
Rúbia, beneficiária do BPC-LOAS [Benefício de Prestação Continuada], é Pessoa com Deficiência (PcD), faz uso de muleta, e vive com o marido, que está acamado há sete anos, em função de sequelas de Acidente Vascular Cerebral (AVC). “A ‘bica’ em que buscávamos água não é longe, mas pela minha condição física era bem difícil. Agora tem água na torneira e realmente mudou tudo.”

Obras melhoram o abastecimento de 123 mil moradores em São João de Meriti
A mudança na vida das moradoras é resultado da atuação da Águas do Rio, unidade da Aegea que assumiu os serviços de água e esgoto na capital e em 26 cidades do estado em novembro de 2021. Desde então, as melhorias têm sido gradativas e já são percebidas em toda a área de atuação.
Em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, foram instalados 20 novos sistemas de bombeamento, apenas nos últimos 12 meses. Com isso, cerca de 123 mil moradores das regiões mais altas da cidade passam a ter um abastecimento com mais regularidade e pressão. Uma mudança que vai muito além da infraestrutura: significa mais qualidade de vida para milhares de famílias.

Desses 20 sistemas, 14 já estão em pleno funcionamento. A expectativa é que todos entrem em operação no segundo semestre de 2025. As intervenções fazem parte de um plano contínuo de melhorias no sistema de distribuição da Baixada Fluminense, uma região marcada por desafios históricos no saneamento básico.
“Estamos levando água com mais pressão a áreas que antes tinham abastecimento irregular ou inexistente. Esse avanço representa mais do que infraestrutura: é dignidade, é saúde e qualidade de vida, chegando de forma concreta a famílias de São João de Meriti”, destaca Felipe Vazquez, gerente de Operações da Águas do Rio.

Além dos avanços no abastecimento, outras iniciativas também vêm contribuindo para transformar a realidade dos meritienses. A atuação da concessionária impulsiona a economia local com a contratação de 499 moradores da cidade e fortalece a relação com a comunidade por meio do cadastramento de 199 lideranças no programa Afluentes. No campo operacional, destacam-se a implantação de 35 quilômetros de rede de água e o monitoramento remoto 24 horas realizado pelo Centro de Operações Integradas (COI), com 100% de telemetria nas principais estruturas de abastecimento.
Texto: Chris Reis
Fotos: Jefferson Oliveira e Eduardo Júnior
Fontes:
https://tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-2025/