Infância saneada: quando crianças ganham o direito de existir

São 16h, Enzo Manoel espera pela chegada da mãe para ir para casa. Passou o dia na escola infantil de turno integral. Aos cinco anos, já tem uma longa jornada estudantil: frequenta a creche desde os oito meses de idade. Este ano, passou para a rede particular de ensino porque a mãe, Juliana dos Santos, não conseguiu conciliar a atividade profissional de auxiliar financeira com o horário da creche da rede municipal de ensino do bairro.

Chegam em casa e Manu, como é chamado, sai em disparada para brincar. A casa da família é simples, mas cercada de afeto e com acesso aos serviços básicos — têm redes de água e esgoto tratados. Filho único, o menino vive a plenitude da primeira infância, o período da vida que vai do nascimento até os 6 anos de idade, segundo o Ministério da Saúde. 

“Ele é muito inteligente, aprende tudo com facilidade. Já sabe ler, fazer contas e tem uma curiosidade enorme sobre tudo no mundo”, conta a mãe. 

Enzo Manoel e sua mãe, Juliana dos Santos.
Enzo Manoel e sua mãe, Juliana dos Santos.

Primeira infância é determinante para o futuro

Juliana tem apenas 23 anos e se orgulha de conseguir oferecer ao filho o básico para que ele se desenvolva. Ela tem razão: a primeira infância é considerada fundamental para o futuro da criança, pois as condições de desenvolvimento nesse período são como o alicerce de uma construção: quanto mais robustas, maior será a capacidade para desenvolver todo o seu potencial de forma equilibrada. Ao contrário, viver sem acesso ao saneamento aumenta a incidência de doenças, o que leva a um desenvolvimento prejudicado. 

Acesso aos serviços básicos garante infância saudável.
Acesso aos serviços básicos garante infância saudável.

As experiências e o ambiente durante essa fase influenciam a formação das bases para a saúde, aprendizagem e bem-estar ao longo de toda a vida. Segundo a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, “quando asseguramos pleno desenvolvimento desde o começo da vida, contribuímos para a ruptura de desigualdades, quebramos ciclos de pobreza, combatemos diferentes formas de violências e desenvolvemos uma sociedade mais saudável”.

Entre os principais aspectos da primeira infância estão: o desenvolvimento cerebral, pois nessa fase o cérebro está em intensa construção, formando milhões de conexões e assimilando as informações do ambiente; o desenvolvimento motor, com a criança adquirindo movimentos essenciais para a exploração e interação com o mundo; o desenvolvimento cognitivo, com a aquisição da capacidade de aprender e de iniciar o processo de conhecimento do mundo; e o desenvolvimento socioemocional, com a construção de vínculos afetivos e a aprendizagem do papel na sociedade.

Mais de 6,6 milhões de crianças se afastam da escola por falta de saneamento

Infelizmente, a realidade do Manu ainda está distante para mais de 6,6 milhões de crianças, que não têm as mesmas oportunidades e se afastam de suas atividades pela falta de saneamento básico. O número, que equivale à população do Paraguai, é de um estudo feito pela EX ANTE Consultoria Econômica, divulgado em outubro de 2024. Apesar dos avanços nos últimos anos, são muitos os desafios brasileiros na oferta de infraestrutura básica na educação. 

Leia na reportagem a seguir. 

Como garantir um bom desenvolvimento na primeira infância

  • Proporcionar afeto e cuidado: a segurança emocional transmitida pelo cuidado carinhoso forma vínculos seguros e importantes para a exploração do mundo. 
  • Estimular o aprendizado: oferecer um ambiente rico em estímulos, que favoreça a brincadeira e a interação, é essencial. 
  • Garantir acesso a serviços: políticas públicas que promovam o acesso ao saneamento, à educação e à assistência social de qualidade são fundamentais para o desenvolvimento integral da criança. 

Fontes: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal | Anuário Brasileiro da Educação Básica | Exante Consultoria | CNN Brasil

Texto: Rosiney Bigattão

Fotos: Shutterstock