Na compreensão daquilo que o saneamento representa diante da crise planetária vivida no Antropoceno, esse período de mudanças provocadas principalmente pela atividade humana, devemos estimular a capacidade de expansão e inovação do setor como alternativa estratégica para o desenvolvimento sustentável. Ele precisa ir além: soluções inovadoras, energia limpa e adaptação climática são a chave para um futuro sustentável.
A crise ambiental planetária desafia todas as dimensões de nossas vidas, sendo que as profundas mudanças que constatamos hoje estão amplamente relacionadas com a intensidade das atividades humanas sobre o ambiente e os recursos dos ecossistemas. Esse patamar de impacto das atividades humanas caracteriza aquilo que temos chamado de Antropoceno, uma época em que vemos todas as nossas atividades se conectando por meio de impactos ou relações de interdependência entre recursos escassos. Assim, toda e qualquer ação ou empreendimento, por mais benéfico que seja, deve ser avaliado por conta de seus efeitos ou dependência de recursos ou insumos. A surpresa: essa formulação também se aplica ao saneamento.
É preciso ampliar a discussão sobre as fragilidades ou impactos do setor
Como sanitarista, sou fervorosamente comprometido com o combate aos déficits de saneamento no Brasil e compreendo que o atendimento dessas demandas, além de fundamental à saúde pública, também traz benefícios muito mais amplos do que simplesmente reduzir os índices de doenças e de mortalidade. Mas, em vários estudos de que tenho participado e em reflexão sobre o momento crítico planetário que enfrentamos, verifico a necessidade de contribuir com discussões mais amplas sobre fragilidades ou impactos do saneamento.
Vejamos: o saneamento requer recursos e insumos, como energia, podendo interferir em cadeias produtivas diante da escassez e esgotamento de nossas fontes naturais. Por outro lado, as atividades do saneamento também sofrem ameaças de eventos climáticos extremos, como no caso impactante das inundações no Rio Grande do Sul de 2024, em que inúmeras estações de tratamento de água e esgotos colapsaram.
Essas questões colocam em dúvida as convicções sobre a importância de universalizar água tratada, coleta e tratamento de esgoto? Jamais! Mas, na verdade, provocam a explorar outros aspectos e inovações desse setor tão importante.
Energia e saneamento
Todos os processos de saneamento são intensamente dependentes de energia, e a demanda pelo recurso impacta os ecossistemas, pressiona a emissão de carbono e o aquecimento global. Contudo, é possível aumentar a eficiência energética nas plantas, recuperar energia em adutoras de água, produzir energia a partir de tratamento de esgoto, gerar energia fotovoltaica em instalações, dentre outras ações.
Por outro lado, há todo um campo em desenvolvimento voltado para a adaptação das instalações de água e esgoto aos extremos climáticos, caracterizando um campo de inovação em sintonia com o contexto das mudanças climáticas, que também fazem parte do cenário ambiental crítico que o planeta enfrenta.
Assim, a provocação deste texto se coloca no sentido de que, no Antropoceno, precisamos gerar e aplicar diversas inovações no campo do saneamento. Mas a boa notícia é que tudo isso se conecta a novas perspectivas para o setor, novas tecnologias, eficiência, novos postos de trabalho e segmentos econômicos muito mais benéficos e em sintonia com a busca do desenvolvimento sustentável.
