Uma lagoa saudável, com água de qualidade e vegetação que pudesse ser morada para os animais, preservando o mangue do seu entorno. Era isso que o biólogo Mário Moscatelli imaginava quando, há 36 anos, olhava para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Sufocada pela urbanização e pelo esgoto despejado sem tratamento, a mortandade de peixes era comum. Um dos principais ecossistemas da cidade estava à beira do colapso.
Para ele, um dos maiores especialistas em mangues do país, era preciso mudar aquela situação. Movido por esse sentimento, começou um trabalho cuidadoso, feito com paciência.

Parceria que deu raízes ao projeto
Mais de 4.500 árvores de mangue vermelho e branco foram plantadas ao longo de três décadas. A busca era por um lugar de diversidade. “Quanto mais heterogêneo e estável o ambiente, mais atrai animais”, diz Moscatelli. Depois de auxílios esporádicos de órgãos e instituições, veio uma contribuição mais robusta.
A parceria entre a Águas do Rio, a Manglares Consultoria Ambiental (da qual Moscatelli é fundador), a Prefeitura do Rio de Janeiro e o Governo do Estado transformou a recuperação do mangue da Lagoa Rodrigo de Freitas em um compromisso contínuo.

Uma morada para os animais em pleno centro urbano
Em mais de três décadas, era a primeira vez que uma empresa privada assumia a missão de patrocinar a iniciativa. Com a Águas do Rio, o projeto Manguezal da Lagoa foi ampliado e ganhou solidez. A concessionária patrocinou a limpeza das margens, o replantio de espécies e ações para manutenção e controle das espécies.
Nos 7 mil metros quadrados de manguezal, as espécies nativas plantadas ao longo do tempo formaram um novo lar para caranguejos, capivaras, savacus, garças, frangos-d’água e até colhereiros. Animais que retornaram principalmente após a melhoria da qualidade da água.
Eles chegaram para ficar: a proteção é contínua, com equipe ambiental dedicada, monitoramento permanente, limpeza das margens, replantio de espécies e ações de controle de pragas.

Saneamento faz a diferença
Além disso, treze elevatórias de esgoto — estações que transportam o esgoto coletado para a estação de tratamento — que formam o cinturão de proteção da lagoa, foram revitalizadas para evitar extravasamentos — uma dor antiga dos frequentadores da Lagoa e dos quiosques à beira dela. A melhora na qualidade da água foi visível, sentida no cheiro, na transparência e, claro, na fauna.
Como toda boa mudança precisa chegar junto com informação, o projeto teve campanhas de educação ambiental. Agora, o biólogo sonha com novos passos: observação da vida silvestre e até a criação de um bioparque público, com deck de observação, placas educativas, ilhas flutuantes e muito mais.

A lagoa é de todos — e agora respira melhor
O impacto disso tudo vai além da natureza. Quem ganha também são os moradores, turistas, ciclistas e todo mundo que frequenta o espaço. A Lagoa se transformou num polo de esperança para a recuperação ambiental no coração do Rio.
Moscatelli resume bem o espírito dessa virada: “Ter recuperado um dos principais cartões-postais do Rio de Janeiro, que fez da Lagoa Rodrigo de Freitas um ambiente saudável para as pessoas e para os animais, nos mostra que o resultado positivo poderá ser replicado em outros locais do Rio.”
Quando o saneamento chega, o mangue responde. A natureza agradece. E a cidade respira melhor.

Mário Moscatelli: o guardião dos mangues
Além de biólogo, é mestre em ecologia e especialista em gestão e recuperação de ecossistemas costeiros. Responsável pela recuperação dos manguezais do canal do Fundão, aterro de Gramacho, Lagoa Rodrigo de Freitas e sistema lagunar de Jacarepaguá. Também é responsável pelo projeto Olho no Verde, que monitora uma área de dez mil quilômetros quadrados de Mata Atlântica.