Como o saneamento protege os oceanos e combate as mudanças climáticas

O saneamento é peça-chave para proteger os oceanos e enfrentar a crise climática. Essa ligação está cada vez mais evidente, inclusive na COP30, com espaços dedicados ao tema, como a Casa Vozes dos Oceanos, que integra a programação oficial.

Oceanos e clima: tudo conectado

Os oceanos ajudam a segurar o colapso climático.  Eles regulam a temperatura do planeta, absorvem o dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera e produzem mais de 50% do oxigênio que respiramos. Também armazenam 90% do calor provocado pelo aquecimento global — ou seja, funcionam ao mesmo tempo como os pulmões e o ar-condicionado do mundo.

Um oceano doente não respeita fronteiras. Seus impactos atingem a roça, a cidade e todos os biomas. Mesmo quem vive longe do mar sente os efeitos da degradação, pois o desequilíbrio climático aumenta a frequência de enchentes, secas e desertificação. Cidades do interior já enfrentam escassez de água e altas temperaturas.

Impacto no regime de chuvas

O geólogo Cristiano Mazur Chiessi, professor da USP e especialista em mudanças climáticas, alerta que, no Brasil, a saúde do Oceano Atlântico e da Floresta Amazônica é determinante para o regime de chuvas no país, impactando diretamente nas secas extremas do Norte e enchentes no Sul:

“O colapso da circulação das águas do Atlântico pode levar a chuvas torrenciais no Norte e secas extremas no Sul, agravando ainda mais os impactos já sentidos hoje. A floresta, perdendo árvores, é incapaz de puxar umidade do oceano. Isso reduz as chuvas e pode tornar a Amazônia uma savana”, alerta.

Poluição dos rios chega ao mar

A falta de tratamento de esgoto e o descarte de resíduos sólidos atingem diretamente os mares. Mesmo longe do litoral, quando poluídos, os rios acabam levando poluentes também aos oceanos. Metais pesados, plásticos e outras substâncias tóxicas chegam por meio deles, afetando os peixes, a cadeia alimentar e colocando em risco a saúde humana. Isso ainda compromete a pesca, a economia e a segurança alimentar de comunidades litorâneas.

No Brasil, são lançados por dia o equivalente a 5.622 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento em corpos d’água, segundo o Instituto Trata Brasil. E o país despeja 1,3 milhão de toneladas de plástico por ano no oceano — o que nos coloca como o 8º maior poluidor marinho do mundo, de acordo com o Instituto Voz dos Oceanos.

Sinal de alerta

A pesquisadora Heloísa Schurmann, que navega pelos oceanos desde 1984 e levou sua experiência para a COP30, vê de perto o desequilíbrio e poluição aumentando ao longo dos anos:

“Os oceanos são muito mais do que paisagem. Quando estão doentes, o planeta inteiro adoece. As enchentes no Sul do Brasil, as queimadas no Centro-Oeste e os eventos extremos que se multiplicam no mundo são sinais de um sistema que perdeu o equilíbrio”, diz Heloísa Schurmann em um de seus artigos.

Saneamento: pilar ambiental e climático

Um dos painéis da COP30, no dia 11 de novembro, resumiu bem essa realidade: “Programa Blue Keepers: água, oceano e resíduos. Todos os caminhos levam ao mar.” Édison Carlos, presidente do Instituto Aegea, participou do debate e mostrou que o saneamento não é só uma obra de infraestrutura, mas uma ação concreta contra o colapso climático.

“Falar sobre oceanos é muito importante; é o ecossistema mais relevante do mundo. E aqui na COP discutimos como que o saneamento básico ajuda a protegê-los de todo o planeta. Em outro painel, a discussão permaneceu sobre a economia circular e a água; a Aegea entra cada vez mais no reúso da água e, claro, trata o esgoto nas mais de 890 cidades atendidas”, disse. 

Outra situação discutida pelo Ministério das Cidades na Casa dos Oceanos é a elevação do nível do mar. Como resultados, a inundação da costa e até a salinização de rios importantes para o abastecimento de água de cidades.

Ao proteger os oceanos, as emissões de gases são reduzidas, combatendo o aquecimento global; a biodiversidade é assegurada e o equilíbrio climático que sustenta a vida é mantido.

Texto: Andrea Santa Cruz

Fotos: Shutterstock 

Fontes: COP 30 Brasil | Trata Brasil | Aegea Blog | Ministério das Cidades  |Direto da COP