Aos 55 anos de idade, o operador de caldeira Luis Augusto Alves tem muita história para contar. Entre as inúmeras, a evolução do bairro Morada Nova, em Uberlândia, cidade localizada no Triângulo Mineiro (MG), onde vive há 20 anos. “Quando eu cheguei aqui não tinha estrutura nenhuma, fazíamos fossas nos terrenos”, lembra, completando que parte da área do bairro é proveniente de ocupação.
Pelas lembranças de Luis Alves, o sistema adotado na construção das fossas era bastante rudimentar e impedia, inclusive, a limpeza. Assim, quando a fossa enchia, a solução era enterrar e cavar um novo buraco, desta forma o quintal do operador de caldeira acumulou três fossas. O resultado: doenças. “Dava muito bicho-de-pé, doenças de pele, essas coisas. Tudo por causa da contaminação.”
“O esgoto torna o lugar mais higiênico”, diz morador
À época, ele vivia com a esposa e os três filhos de 16, 15 e 13 anos. Após 12 anos morando no bairro, o esgoto chegou e transformou tudo em volta. “O esgoto torna o lugar mais higiênico, não foi mais preciso furar o quintal, tudo ficou mais limpo, as doenças acabaram. Deu uma melhorada, mais qualidade de vida, né? O saneamento básico é muito importante”, diz Luis Alves.
O que o morador vivenciou em sua rotina também apareceu com destaque no Ranking do Saneamento 2025, publicado pelo Instituto Trata Brasil (ITB), em parceria com GO Associados. Uberlândia figura em 11º lugar entre os 100 municípios listados. Em oito anos, de 2017 a 2024, os investimentos na área foram superiores a R$550 milhões, segundo o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE).
Investimentos colocam a cidade em destaque
A cidade se consolidou como referência nacional em saneamento básico e foi apontada como a 3ª melhor em qualidade de vida entre as que têm mais de 500 mil habitantes – exceto as capitais. A informação é do Índice de Progresso Social (IPS) 2025, realizado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) em parceria com a plataforma IPS Brasil.
Os resultados dos levantamentos sustentam a opinião de quem vive no município. Gente como Gilmar Paula Rodrigues, 58 anos, que chegou ao local em 1977 com a família, deixando Quirinópolis (GO) para construir a vida na cidade mineira.
Hoje, ele preside a Associação dos Moradores do Bairro Planalto e Adjacentes, viu tudo evoluir na região e se diz orgulhoso: “é uma cidade sensacional, no Brasil é uma das que estão nos primeiros lugares em rede de esgoto e água tratada”, diz Gilmar Rodrigues.
Avanços na rede de água
Em nota ao Saneamento Salva, o DMAE informou que iniciou 2025 com uma série de ações robustas no setor de saneamento básico, com destaque para a ampliação da infraestrutura de abastecimento e esgoto em Uberlândia. Apenas no primeiro semestre deste ano, foram produzidos e distribuídos mais de 37 milhões de m³ de água tratada, “mantendo a regularidade e qualidade no fornecimento, mesmo em um cenário nacional de estiagem e escassez hídrica”, conforme a nota.
A segurança do sistema foi garantida com o bom desempenho dos mananciais Capim Branco, Bom Jardim e Sucupira. Além disso, a autarquia manteve o rígido controle da qualidade da água, por meio de análises realizadas em quatro laboratórios próprios e coletas diárias em 106 pontos estratégicos, assegurando eficiência em todas as etapas do abastecimento.
Em Uberlândia, quem zela pela natureza é ‘produtor de água’
Ter mais água para o abastecimento na cidade também é resultado do trabalho de quem produz no campo de olho nos recursos naturais. É da região denominada Tenda dos Morenos, a quase 12 km da cidade de Uberlândia, que vem a definição do que é ser produtor de água.
“É zelar pela nascente, a ponto dela ser beneficiária que vai dar água para todo mundo. Zelar pela natureza é produzir a água”, nas palavras simples do produtor rural e comerciante Amarildo dos Santos, 63 anos. Ele aprendeu, ainda menino, a cuidar da natureza e, agora, isso foi ampliado pelo Programa Buriti.
O Programa Buriti
Na Fazenda Moreno, propriedade da família há pelo menos 120 anos, além do cuidado com as plantações de banana e chuchu, é dada atenção à nascente. E, por isso, foi incluída no Programa Buriti, criado em 2008 para proteger e recuperar nascentes por meio do plantio de espécies que compõem a mata ciliar. Segundo o DMAE, a intenção é garantir qualidade da água e a suficiência para abastecer Uberlândia e as atividades rurais.
As ações ocorrem de forma gratuita em mais de 290 propriedades rurais localizadas nas bacias dos rios Uberabinha, Araguari e Ribeirão Bom Jardim – mananciais responsáveis pelo abastecimento de Uberlândia. A Fazenda Moreno está na área da bacia do Araguari.
Fortalecimento da mata ciliar
De 2008 até agora, o Programa Buriti já plantou 560 mil mudas nativas, o que resultou no cercamento de aproximadamente 715 mil metros lineares e mais de 16,9 mil horas-máquina de trabalho com a realização de barraginhas, terraceamento, curva de nível e readequação de estradas vicinais.
Com as ações, aproximadamente 7,8 mil hectares de Área de Preservação Permanente (APP) foram protegidos. O próximo passo é ampliar esse atendimento do Buriti para outras propriedades à jusante dos pontos de captação, um trabalho que deve começar ainda em 2025.
As ações no campo que resultam em mais água para a cidade
O trabalho realizado com os produtores impacta diretamente nas torneiras das casas de quem mora na cidade e quem está no campo, já tem total clareza disso. “Junto com o Buriti vieram vários parceiros e as orientações para conscientizar o produtor. Aqui, por exemplo, não tem chiqueiro, aí as pessoas vão se conscientizando sobre o que vai ou não para o lençol freático”, detalha Amarildo do Santos.
Ele acredita que Uberlândia é hoje um excelente exemplo de cuidado com serviços essenciais. “É um município privilegiado, tudo aqui, na parte de saneamento e água é de primeiro mundo”, diz Amarildo.
Investimentos em saneamento: um caminho sólido
”Avançar em saneamento básico é um processo contínuo, que exige planejamento, investimento e uma gestão técnica rigorosa. Os resultados que alcançamos nos últimos anos mostram que Uberlândia tem trilhado um caminho sólido, com obras estruturantes que impactam diretamente na saúde pública e na qualidade de vida da população. No entanto, sabemos que ainda há desafios importantes pela frente, especialmente diante do crescimento urbano e das mudanças climáticas que afetam a disponibilidade hídrica. Nosso compromisso é seguir evoluindo com responsabilidade, buscando soluções sustentáveis e eficientes para garantir um sistema cada vez mais resiliente e preparado para o futuro”, afirma o diretor-geral do DMAE, Rodrigo Sávio Lacerda.
Texto: Chris Reis
Fotos: Acervos de Amarildo Santos, Gilmar Rodrigues e Luis Augusto Alves
Fontes:
https://ipsbrasil.org.br/pt/conheca/sobre
